Uma criança a fazer xixi na cama é mais comum do que se possa pensar. Segundo a Associação Portuguesa do Sono, a enurese afeta 20% das crianças com 5 anos. Aos 10 anos, a frequência diminui para 5%.
Embora seja frustrante para pais e filhos, a criança não tem culpa, nem o faz de propósito, sendo fundamental ter consciência disso e perceber o que pode estar a causar a situação.
Também é importante seguir estratégias que permitam ultrapassar esta fase da melhor forma. Conheça algumas, neste artigo.
O que é a enurese?
A enurese é uma disfunção fisiológica que se caracteriza pela perda involuntária de urina, geralmente à noite, durante o sono.
Fazer xixi na cama ou molhar a roupa pelo menos duas vezes por semana, durante aproximadamente três meses, são os principais sintomas desta condição.
Existem diferentes tipos de enurese, e uma criança pode sofrer de mais do que um. São eles:
– Noturna: perda involuntária de urina que ocorre durante o sono, sendo que, até aos 10 anos, é mais frequente nos rapazes do que nas raparigas;
– Diurna: perda involuntária de urina durante o dia, quando a criança está acordada;
– Primária: ocorre em crianças que nunca conseguiram controlar completamente a bexiga;
– Secundária: acontece em crianças que já tiveram controlo da bexiga durante, pelo menos, seis meses;
– Monossintomática: quando a perda de urina não vem acompanhada de nenhum outro sinal ou sintoma.
Existe ainda a enurese não monossintomática, que é quando está associada a outros sintomas, como dor ao urinar, jato urinário fraco, necessidade frequente de urinar, entre outros.
Causas da enurese infantil
A enurese infantil pode ser motivada por diversos aspetos:
– Imaturidade do sistema nervoso: em crianças pequenas, o sistema nervoso pode não estar completamente desenvolvido para controlar a bexiga;
– Problemas físicos: infeções do trato urinário, prisão de ventre, anormalidades na estrutura da bexiga ou uretra e outras condições físicas;
– Distúrbios neurológicos: paralisia cerebral, espinha bífida e outras condições que afetam o sistema nervoso;
– Fatores psicológicos: stress, ansiedade ou trauma;
– Fatores genéticos: em alguns casos, a incontinência urinária pode ser herdada geneticamente;
– Problemas hormonais: as alterações hormonais que ocorrem durante a puberdade, por exemplo, podem contribuir para a incontinência urinária em adolescentes;
– Histórico familiar: se um ou ambos os pais tiverem tido enurese, a probabilidade de isso suceder com o filho é maior.
As crianças com perturbação de hiperatividade e défice de atenção também são mais suscetíveis de ter enurese, em particular enurese noturna.
Estratégias para lidar com a enurese noturna
Ainda que, até aos sete anos, a enurese não seja motivo de preocupação em termos médicos, pode ser frustrante para toda a família.
Naturalmente que é a criança quem mais se ressente, podendo ter problemas como:
– Culpa e vergonha, o que pode contribuir para a perda de autoestima;
– Falta de confiança para participar em atividades que impliquem dormir fora de casa;
– Assaduras e erupções cutâneas, especialmente se dormir com a roupa molhada.
Contudo, é possível evitar estas situações, adotando algumas estratégias:
– Estabelecer uma rotina para a criança utilizar a casa de banho antes de dormir e imediatamente após acordar;
– Reduzir o consumo de líquidos à noite e evitar dar alimentos diuréticos antes de dormir;
– Incentivar a criança a utilizar a casa de banho sempre que sentir vontade, em vez de segurar a urina;
– Considerar o uso de um despertador como alarme para a criança ir à casa de banho durante a noite. Confirmar, também, que o acesso à casa de banho está facilitado;
– Manter um pijama extra junto à cama, bem como utilizar uma camada dupla de resguardo e lençol para minimizar o desconforto durante a noite;
– Confirmar se há sinais de infeção urinária ou outras condições médicas que possam contribuir para a enurese noturna;
– Promover o treino da bexiga com idas regulares à casa de banho durante o dia, entre quatro a sete vezes, e esvaziamento completo da bexiga;
– Evitar punições ou críticas negativas, pois isso pode aumentar o stress e piorar o problema;
– Encorajar e elogiar a criança pelos seus esforços e progressos;
– Manter uma comunicação aberta e honesta sobre a enurese noturna e procurar aconselhamento de um profissional de saúde, se necessário.
Por fim, importa realçar que cada criança é única e pode responder de forma diferente a estas estratégias, pelo que, quanto mais apoio tiver, melhor vai lidar com esta condição.
Fontes:
- Sociedade Portuguesa de Pediatria — Curso de Inverno de Nefrologia Pediátrica. Enurese
- Sociedade Portuguesa de Pediatria — 15.º Congresso Nacional de Pediatria. Enurese Noturna
- MD.Saúde. Enurese noturna (criança que faz xixi na cama)
- Associação Portuguesa de Sono. Dia Mundial da Enurese 2021
- Sociedade Portuguesa do Sono. Dicas para reduzir o chichi na cama